segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Memórias

Às vezes abrir e fechar os olhos não trazem a nitidez que o coração precisa.
Você está cego!
E você pisca os olhos incansavelmente na crença desesperada de que vai conseguir acordar,
mas você está acordado!
Ainda assim, você está vivo?
O sangue pulsa frio dentro do corpo.
A vista continua embaçada.
O ar rasga os pulmões por dentro.
Tem alguma coisa aí dentro?
Você está trancado, dentro e fora do corpo.
Alguém bate na porta.. Tem alguém tentando te salvar.
Ainda assim, você está vivo?
O barulho de fora,
os gritos,
as batidas na porta..
Toda confusão é silenciada pelo vácuo escuro que está dentro de sua cabeça.
Você não está pensando em nada.
Não existe nada.
Existe vida?
Você quer ir além.
Às vezes você precisa sangrar para ter certeza que está vivo.
Sim, você está sangrando.
Ainda assim, você está vivo?
Existem cicatrizes que ficam marcadas para sempre,
Mas elas te mostram que você sobreviveu.
Você sobreviveu?
Existem feridas que não cicatrizam
E elas continuam sangrando.
Levando sua vida aos poucos.
E você se habitua a elas,
À dor, ao sangue.
Elas te mostram que você ainda está vivo.
Elas também te mostram que você está morrendo.
Elas te dizem como você vai morrer.
E você está morrendo.
Ainda assim, você está vivo?

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Autobiografia antiga - que continua recente.

Todos que me circundam reconhecem em mim calma, paz e serenidade. E essa opinião é incrivelmente unânime. Também reconheço essas características em mim, não há como negar, pois calma, paz e serenidade sempre foi tudo o que busquei nos que me são presentes - acredito no espelho da vida. Tudo que é oposto disso me afasta. Efusividade me irrita, barulho me desorienta, pressa me enlouquece. Uma vez alguém que me conhecia de uma forma mais profunda que eu mesma resolveu me definir, de forma ironicamente impecável: "Isadora funciona numa velocidade abaixo do resto da humanidade, parece que nasceu em slowmotion". Até hoje rio quando lembro disso, foi uma crítica a minha não aceitação ao ritmo acelerado desse mundo - e olhe que foi bem antes dessa geração hightech de respostas simultâneas e notícias na velocidade da luz. Não tenho pressa, não ando rápido, falo devagar, fico horas sentada numa varanda fazendo absolutamente nada e sem a menor sensação de perda de tempo (apesar do tempo ser cada vez mais curto). Leio o mesmo livro três vezes, leio três livros ao mesmo tempo. Não suporto moda, ditadura de beleza, culto ao corpo, extremismos. Não me adéquo a imposições. Leio sobre signos, sobre pássaros, sobre religiões, medito. Acredito em Deus, em Alá, Buda, Jah, no Sol.

*Texto escrito em 06/11/14, tido como inútil, esquecido nos rascunhos e publicado agora pelo simples fato de continuar fazendo sentido.